Integração entre ciência e educação fortalece práticas inclusivas no cuidado hospitalar
Desenvolvido a partir de um projeto de pesquisa em neurociências, o treinamento sobre hipersensibilidade sensorial reforça o compromisso do Hospital Adventista de Belém com uma saúde baseada em valor e práticas inclusivas de cuidado.
Ao chegar a um hospital projetado sob os princípios da arquitetura hospitalar, somos envolvidos por uma atmosfera de acolhimento e bem-estar.
A iluminação é cuidadosamente planejada, o ar é leve e climatizado, as poltronas confortáveis abraçam a espera. O som ambiente conduz à calma, enquanto as atendentes chamam os pacientes com voz serena, orientando cada passo com gentileza. Nos corredores, o toque do verde e da madeira traz a presença da natureza — um convite ao equilíbrio e à confiança.
Em um ambiente hospitalar, tudo comunica. Cada detalhe é pensado para oferecer conforto, segurança e tranquilidade.
Mas, para uma parcela significativa da população neurodivergente — pessoas com Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), condição frequente em autistas e indivíduos com TDAH, dislexia ou epilepsia —, esse mesmo cenário pode ser percebido de outro modo. Sons suaves podem soar intensos; a luz que acolhe pode ofuscar; o toque, que conforta, pode ferir.
O que para muitos é sinônimo de conforto, para eles pode se tornar um desafio invisível — um lembrete de que cuidar é também compreender os diferentes modos de perceber o mundo.
Com o propósito de fortalecer uma assistência centrada no paciente e na experiência do cuidado, o Hospital Adventista de Belém promoveu, nos dias 08 e 09, um treinamento conduzido pela Dra. Caroline Brasil, doutora em Neurociências e Biologia Celular, professora universitária e coordenadora da Liga de Neurociências Aplicadas da FAAMA. A capacitação foi realizada no auditório Irineu Stabenow, 5º andar do prédio garagem do Hospital Adventista de Belém.

Mais do que uma capacitação técnica, o encontro representou um avanço na cultura institucional de empatia, inclusão e valor no cuidado, reafirmando o compromisso do hospital em compreender o paciente em todas as suas dimensões — corpo, mente e percepção.
Entender para acolher
Durante a capacitação, a Dra. Caroline explicou que o hospital é um ambiente naturalmente repleto de estímulos sensoriais e que parte dos pacientes processa essas informações de modo mais intenso — sons que ferem, luzes que incomodam, texturas que perturbam.
“Esses estímulos são percebidos de forma agressiva, como se fossem nocivos. Isso pode gerar desregulação emocional e levar a medidas de contenção menos humanizadas. O treinamento é essencial para que o colaborador se sinta seguro e preparado para oferecer um atendimento mais acolhedor e digno”, destacou.
Ao compreender o impacto da hipersensibilidade, os profissionais aprendem a adaptar o ambiente, ajustar o tom de voz, o ritmo, a luz e o toque, criando condições para que o paciente se sinta protegido e respeitado — elementos que fortalecem a confiança e melhoram a experiência do cuidado, pilares da saúde baseada em valor.
Aprender para transformar o cuidado
Para a enfermeira Ana Trindade, responsável pela Educação Permanente do Hospital Adventista de Belém, o treinamento reforça o papel estratégico da educação como meio de promover mudanças reais na cultura de cuidado.
“A Educação Permanente em Saúde fortalece uma cultura de cuidado humanizado ao estimular a reflexão sobre a prática, a empatia, o trabalho em equipe e o foco na experiência do paciente, promovendo uma assistência mais integral e segura.”, enfatizou.
A iniciativa íntegra o programa de formação contínua dos colaboradores, voltado a desenvolver habilidades técnicas e emocionais, fortalecendo o compromisso institucional com uma assistência que une ciência, fé e compaixão.
Da pesquisa à prática hospitalar
O treinamento faz parte de um projeto de pesquisa desenvolvido pela Liga Acadêmica de Neurociências Aplicadas da FAAMA, que analisa a efetividade de formações sobre hipersensibilidade sensorial e sua aplicabilidade no cotidiano hospitalar.
Por meio de avaliações antes e depois da capacitação, o estudo mede o quanto os colaboradores assimilam o conteúdo e passam a aplicar estratégias adaptativas durante o atendimento. Entre essas estratégias estão a triagem sensorial no momento da admissão, o uso de kits sensoriais (com fones de ouvido, brinquedos ou almofadas que promovem conforto), e ajustes simples no ambiente, como redução de ruídos e iluminação mais suave.
“Queremos que os colaboradores vejam o paciente além do diagnóstico. Que percebam que, às vezes, por trás de um comportamento considerado resistência, há uma dor sensorial real. E que pequenas adaptações podem transformar o cuidado e evitar sofrimentos desnecessários”, ressaltou a pesquisadora.
O impacto no cuidado diário
Entre os participantes, a enfermeira Patrícia Sacramento, do Posto 3, destacou o quanto a capacitação trouxe uma nova perspectiva para o seu dia a dia.
“Esse treinamento me fez enxergar o paciente com mais sensibilidade. Às vezes, um comportamento que parece impaciência ou agitação pode ser apenas uma resposta ao excesso de estímulos. Aprender sobre isso muda como a gente aborda, acolhe e cuida”, compartilhou.
O relato de Patrícia representa o impacto concreto da formação — o conhecimento que se converte em prática, o aprendizado que se traduz em empatia.
Ambientes que curam
A Dra. Caroline também apresentou o conceito de design universal, que propõe ambientes hospitalares pensados para acolher diferentes formas de perceber o mundo — sejam típicas ou atípicas.
“Um hospital projetado com conforto sensorial beneficia a todos. Luzes mais quentes, sons controlados e texturas agradáveis reduzem o estresse e promovem bem-estar. É um passo além na humanização do cuidado.”
Essa abordagem amplia o olhar institucional para além do tratamento: o hospital como espaço terapêutico, capaz de curar também pelos sentidos, favorecendo o equilíbrio emocional e a segurança do paciente.

Cuidar de forma integral
Ao promover ações educativas como esta, o Hospital Adventista de Belém reafirma seu propósito de cuidar de forma integral, valorizando o ser humano em sua totalidade e fortalecendo a saúde baseada em valor.
Cada aprendizado compartilhado se reflete em atendimentos mais empáticos, em decisões mais conscientes e em experiências mais humanas — porque, no fim, cuidar também é compreender.
Confira a galeria de fotos da capacitação!